eu retornei a mim mesma. fria e dura. aquela parte macia, adocicada como um remédio que enjoa, aquela eu decepei.eu não sei como não percebi antes. se eu sabia que não haveria compreensão. arrogância minha dizer isso agora, é verdade, eu queria poder transmutar essas cores, esses tons de cinza em palavras. esses sussuros em gritos. meu corpo quer vida, a despeito dessa morte toda, quer passar por sobre minhas asas, quer elevar-se, quiçá propagar-se. eu não estou mais na beira do abismo, não agora. mas parece que qualquer passo alheio pode me precipitar. como chuva. eu chovo. aqueço e foi-se mais uma vez, mais um dia. quantos dias desses foram realmente meus... eu não sei.
foto ricardo pozzo/ fran ferreira
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